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Fake selfies

Atualizado: 18 de fev. de 2019


Private Jet Studio (Reprodução Instagram)

Faz tempo que a gente sabe que muitas selfies não pertencem ao mundo real e sim a um universo paralelo, onde só existem versões caprichadas e glamorosas dos autofotografados.


Mas quando eu imaginei que nada mais me surpreenderia, me deparo com uma notícia surreal: “Empresa cobra R$ 900 para cliente "fingir" passeio em jatinho e tirar fotos para as redes sociais” *. Ops ...... como assim? Deve ser fake news!


Não era. A empresa russa Private Jet Studio, que oferece este serviço desde 2017, disponibiliza, além da opção básica com fotos, pacotes especiais que incluem equipe de cabeleireiros, maquiagem e itens para compor o cenário, como champanhe e outros objetos de luxo, o que pode elevar essa aventura fake-ostentação para a casa dos R$ 2.000. Para quem tem milhares de seguidores, o preço por curtida pode até justificar o investimento.


Mas quem entrar nessa tem que ficar esperto para não passar por uma situação embaraçosa como a do rapper americano Bow, que foi flagrado viajando num voo comercial no mesmo dia em que postou uma foto num jatinho particular no Instagram. Não consegui descobrir se ele deu alguma explicação, mas acredito que optou por ficar quieto para apressar o esquecimento do caso. Pois é, vida fake também tem seus perrengues.


O artista americano Matty Mo não deixou passar em branco essa onda de fake selfies em jatinhos e criou o projeto “The Private Jet Experience” dentro das lojas da rede Fred Segal, de Los Angeles. Trata-se de uma instalação que reproduz com perfeição um luxuoso interior de um jatinho, assumidamente falso, para que os clientes usassem como cenário para fotos a serem postadas. O objetivo do artista com esse projeto é ‘lembrar às pessoas que não se deve acreditar em tudo que se vê nas redes sociais’. Fez tanto sucesso que a instalação já tem agenda para rodar por outras cidades dos Estados Unidos em 2019.


Tecnicamente falando, as fotos no tal jatinho não são selfies propriamente ditas, uma vez que não são feitas pelo próprio fotografado. Conceitualmente, no entanto, elas têm o mesmo propósito de criar um personagem editado para valorização da própria biografia.


Verdade seja dita: grande parte das selfies que vemos na nossa timeline são bem despojadas, naturais, divertidas e têm apenas o objetivo de compartilhar momentos únicos e interessantes com os amigos. Mas é importante perceber que a sociedade do consumo traz armadilhas que podem levar a uma vida de aparência apenas para atender necessidades de se destacar e competir pelos holofotes do mundo digital.


Seria um equívoco demonizar a tecnologia quando vemos um tipo de situação tão bizarra quanto essa. Sempre é bom lembrar que a tecnologia nos traz benefícios imensos que têm conduzido a humanidade a patamares há pouco tempo inimagináveis. O que é preciso é manter um olhar crítico sobre a maneira com que às vezes ela é usada.


Toda essa conversa sobre selfies me fez viajar no tempo e lembrar da minha época de estudante na Faculdade de Comunicação quando na primeira aula de fotojornalismo o professor contou uma história que nunca esqueci. Uma senhora passeia por uma praça tranquila, encontra uma mãe empurrando um carrinho de bebê e diz: “nossa... que lindo o seu filho? E a mãe responde: você acha? Então você precisa ver a foto que o pai fez dele!


Pois é. Não é de hoje que fotos exercem um grande poder sobre as pessoas.



Instalação do artista Matty Mo, na loja Fred Segal, Los Angeles, EUA (Internet)

* Matéria Revista Pequenas Empresas&Grandes Negócios: https://goo.gl/hvRV9L



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